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Correio Braziliense: Incêndio na Floresta Nacional de Brasília deixa rastro de destruição

Após três dias ardendo em chamas, o cenário da Floresta Nacional de Brasília (Flona) é desolador. As árvores, antes altas e verdes, foram reduzidas a troncos, cobertos por cinzas, caídos no chão. Os cantos dos pássaros ecoam distante e a fauna parece não habitar mais o local. A reportagem do Correio percorreu parte da vegetação queimada e viu de perto os rastros da destruição.

O cheiro de fumaça se espalha por toda a Flona e não é mais possível avistar flores na vegetação. As marcas das chamas alcançaram a metade dos troncos maiores. Nesta quinta-feira (5/9) ainda havia pequenos focos de incêndio. Militares dos bombeiros também lutavam contra as queimadas nas vegetações da DF-001, nas proximidades da Flona. Segundo o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), cobras, lagartos e um cágado foram encontrados mortos. Uma jararaca foi resgatada e teve de ser encaminhada ao Centro de Triagens de Animais Silvestres (Cetas) do Ibama. Um rato silvestre, ferido, foi levado para o Hospital e Centro de Reabilitação da Fauna Silvestre (HFaus).

Moradores vizinhos lamentavam a tragédia ambiental. Paulo Augusto da Silva, 32 anos, é, há três anos, caseiro de uma chácara vizinha da Flona. Costumava passear com a filha nas proximidades do local para apreciar os bichos. “Vimos antas e tatus. Na chácara, a gente coloca fruta para as araras, papagaios e tucanos, mas, desde terça-feira (quando o fogo começou), eles nunca mais apareceram”, lamentou. Paulo presenciou o início das chamas e agora está preocupado com a recuperação da vegetação e com a saúde dos animais: “Vai demorar muito para eles melhorarem”, acrescentou.

A chácara onde trabalha por pouco não foi atingida pelo incêndio. “Os funcionários e moradores se juntaram para fazer um aceiro e foi isso que impediu que o fogo tomasse conta. As chamas eram altas demais, estavam acima do meio do tronco das árvores”, mostrou.

O ambientalista Leandro Vieira destacou que as constantes queimadas impactam significativamente a flora. “Há perda da vegetação nativa, prejudicando consideravelmente a regeneração de algumas espécies, sendo muitas dessas endêmicas e ameaçadas de extinção”, disse. “Muitos animais de baixa mobilidade acabam morrendo queimados, sem contar que os incêndios também interferem na procriação de espécies que se reproduzem nesse período do ano. A perda de habitat diminui a oferta de alimentos e de abrigo, fazendo com que muitos acabem migrando para outras regiões, podendo até ir para zonas rurais e áreas urbanas”, alertou Vieira.

Claudia Rocha Campos, bióloga da APA do Planalto Central — ICMBio, explicou que esta época do ano é crítica para os incêndios, devido à seca e à baixa umidade do ar, mas que a ação humana interfere diretamente no surgimento das queimadas. “Os incêndios, no entanto, são, quase em sua totalidade, criminosos, às vezes intencionais ou acidentais. Independentemente disso, eles causam um impacto muito grande, podendo dizimar a fauna local, se não for contido a tempo. Nesses eventos, não somente animais morrem, mas árvores e até os combatentes do fogo.”

O ambientalista salientou que os incêndios interferem na qualidade do solo e da água. “Com a perda de vegetação, o solo fica exposto, chegando a sofrer erosões. Há também a perda de aptidão para retenção de água da chuva, o que pode afetar a capacidade de recarga dos corpos hídricos da região.”

Segundo a bióloga, o tempo de recuperação da Flona dependerá da extensão da área queimada e da fauna que se perdeu. “Ainda estamos coletando informações, distribuindo alimentos e água (para os animais) em diversos pontos da região para suplementação, e averiguando o impacto desse incêndio para a Flona”, explicou.

Preocupação

Em coletiva de imprensa, nesta quinta-feira (5/9), representantes do ICMBio, do Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBMDF) e do Instituto Brasília Ambiental (Ibram) confirmaram que as equipes conseguiram controlar, ainda na noite de quarta (dia 4), o fogo que atingiu a Flona.

Imagens de satélite revelaram que 38,58% da unidade foram afetados pelas chamas — cerca de 2,1 mil hectares. Na área 1 da floresta, onde costuma haver mais visitações, quase 60% do espaço foi queimado. Um dos maiores desafios no combate às chamas, segundo os bombeiros, foi enfrentar as altas temperaturas, o clima seco e os ventos fortes, que dificultam o controle do incêndio.

No momento, a fauna da Flona é uma das maiores preocupações das equipes que combatem o fogo na região. O Zoológico de Brasília, o Jardim Botânico, o Ibama, o ICMBio e o Batalhão Ambiental da Polícia Militar do DF estão mobilizados para realizar os resgates de animais da região. A principal ação será garantir alimentação para os bichos, com o fim de evitar que eles se desloquem para vias movimentadas em busca de comida e corram o risco de serem atropelados.

“Encontramos animais mortos e feridos, porém, a boa notícia é que avistamos também muitos (animais) vivos, como um lobo-guará, uma anta com seu filhote e alguns veados. Todos ainda estão desnorteados por conta da perda de suas casas, mas vivos. Isso nos dá muita esperança em relação à recuperação da unidade”, ressaltou o chefe da Flona e da Área de Proteção Ambiental (APA) da Bacia do Descoberto, Fábio dos Santos Miranda.

Os animais feridos são encaminhados para hospitais de referência. Ainda não há um número fechado acerca da quantidade de bichos mortos nos incêndios, porém, sabe-se que nenhum animal de grande porte foi encontrado morto até agora. Foram resgatados pássaros, cobras e ratos silvestres. “É natural que muitos (animais) se escondam em tocas para se proteger das chamas, por isso ainda não temos um levantamento definitivo”, acrescentou o chefe da Flona.

Combate ao fogo

O coordenador das atividades de manejo integrado do fogo da Flona, Hudson Coimbra, explicou que o combate às chamas ocorreu de forma direta, com bombas e abafadores, e indireta, com queimas de expansão, que visam à margem de segurança das queimadas e aberturas de linhas de defesa. “Nosso foco é trabalhar na extinção dos focos que estão localizados, principalmente nas matas de galeria, zonas de conservação e prioritárias”, afirmou. Ainda segundo o coordenador, trata-se do maior incêndio na Flona nos últimos quatro anos.

Na última quarta, foi instalado um posto de comando do CBMDF na Flona. Segundo Sávio Monteiro, tenente do CBMDF e oficial de área oeste, as operações seguintes se concentraram na vigilância, no patrulhamento da região e no resfriamento dos pontos quentes.

No Incra 7, em Brazlândia, as chamas chegaram perto de casas e assustaram moradores. O CBMDF atuou na proteção das famílias e das propriedades, que fazem fronteira com a Flona. Não há vítimas até o momento e, após as ações de combate, as pessoas puderam retornar às suas casas.

O prejuízo, segundo as equipes, foi financeiro, visto que muitas hortas queimaram. “Além de proteger as famílias, outra prioridade é a proteção dos córregos, currais e nascentes do Ribeirão das Pedras”, disse o tenente.

Em razão do incêndio, a Polícia Federal instaurou um inquérito para investigar a possibilidade de origem criminosa. Nesta quinta-feira (5/9) foi realizada uma perícia nos locais onde começaram as chamas. Segundo o ICMBio, três pessoas foram vistas no local onde o fogo começou, o que pode indicar ação intencional. As investigações estão sendo conduzidas em sigilo pela Delegacia de Repressão a Crimes Ambientais da Superintendência da PF no DF.

Ameaça à saúde

A fauna e a flora não são as únicas vítimas das queimadas. Mesmo com o fogo controlado, é possível ver resquícios de fumaça encobrindo o céu da região.  William Schwartz, coordenador de pneumologia do Hospital Santa Lúcia, alertou que a fumaça contém uma mistura complexa de gases, como monóxido de carbono, e partículas finas que são extremamente perigosas, quando inaladas. “Elas podem levar à irritação das vias respiratórias, pois a fumaça irrita as mucosas das vias aéreas, causando tosse, garganta seca, ardência nos olhos e nariz, e desconforto geral nas pessoas expostas”, detalhou.

A pneumologista Grasielle Santana, que atua nas Oncoclínicas Brasília, acrescentou que a baixa qualidade “pode causar impacto no sistema imunológico, aumentando a suscetibilidade a infecções respiratórias, como resfriados, gripe e pneumonia. É importante ter atenção especial a idosos, crianças e pessoas com condições de saúde preexistentes , que são particularmente, mais vulneráveis nessas condições”, completou.

A melhor forma de proteção, segundo os médicos, é evitar a exposição à fumaça, permanecer em ambientes fechados e bem ventilados, usar máscaras, e, se possível, utilizar purificadores de ar em casa.

Fonte: Correio Braziliense

 

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