As infecções respiratórias e o aumento da incidência em períodos de aglomeração de pessoas, como o carnaval, foram tema do CB. Saúde — parceria entre o Correio e a TV Brasília, que teve como convidada, nesta quinta-feira (6/3), a otorrinolaringologista Marcela Suman. Às jornalistas Carmen Souza e Sibele Negromonte, ela destacou que a higiene nasal é o principal cuidado para a prevenção de infecções. A especialista também alertou para o uso indiscriminado e sem orientação médica de descongestionantes nasais.
Quais são as principais recomendações para evitar e tratar infecções respiratórias?
A higiene nasal é a base para a prevenção de infecções. Nosso nariz tem a função de filtrar, aquecer e umidificar o ar que respiramos. Quando ele está obstruído, seja por sujeira, seja por secreção, não consegue realizar essa tarefa. Por isso, a lavagem é tão importante. Essa lavagem é realizada com soro fisiológico e com a cabeça levemente inclinada para trás. O segundo ponto é o uso de remédio receitado por um médico especialista.
O período de carnaval propicia um aumento nos casos dessas infecções?
Começamos a perceber o aumento com o retorno às aulas, porque as crianças têm mais contato, e a noção de higiene das crianças é diferente da nossa. No carnaval percebemos ainda mais. É muita aglomeração e contato com vírus de diversos lugares diferentes, assim como contato com pessoas de fora do Brasil e de outros estados concentradas no mesmo lugar. Nesse caso, existe uma contaminação ainda maior.
Como essas infecções acontecem?
Elas acontecem no contato de perdigotos (gotículas de saliva expelidas) que entram pelo nariz. A entrada do vírus sempre começa pela cavidade nasal, que funciona como um ar condicionado. Quando está limpo, funciona muito bem. Caso o nariz fique muito congestionado, também pode ocorrer a otite (inflamação ou infecção no ouvido). Após algum tempo, a infecção pode evoluir para a laringe e a faringe, causando outras doenças como a laringite. Na fase inicial, pode ou não pode haver sintomas, mas quando desce para a garganta, já apresenta sintomas.
O uso abusivo de descongestionante traz algum risco à saúde?
As pessoas compram esse remédio de forma indiscriminada nas farmácias, sem receita e sem conhecer os efeitos colaterais. Esse medicamento foi criado para tratar o sangramento nasal que, ao fechar os vasos sanguíneos, o ar tem mais espaço para circular. A privação de irrigação sanguínea reduz o oxigênio e os nutrientes que as células vão receber. Então, a mucosa vai ficando pálida e interferindo no funcionamento, acarretando acúmulo de impurezas na região nasal.
Quais outros riscos o vício em descongestionantes pode trazer?
Esses medicamentos também são perigosos para outros grupos de pessoas, já que são absorvidos pela corrente sanguínea. Então, a pessoa pode ficar com insônia, irritabilidade e pode aumentar a pressão arterial e a frequência cardíaca. Com o tempo, isso pode trazer sérios prejuízos e causar até a morte. Outro risco pelo uso de descongestionantes é o comprometimento cerebral pela falta de oxigênio. Qualquer causa que reduza a chegada de oxigênio para os vasos sanguíneos do cérebro vai gerar deficit cognitivo, podendo gerar perda de memória, contas que você fazia com facilidade e, agora, enfrenta uma certa dificuldade. Esse deficit cognitivo acontece geralmente por obstruções crônicas, como o desvio de septo e a insuficiência da válvula nasal.
Como o desvio de septo influencia na respiração e quando deve ser procurada uma cirurgia?
O septo nasal é uma parede que divide os dois lados do nariz. Ele deveria crescer reto, mas durante o crescimento dos ossos da face, pode gerar um desvio. E no lado do desvio, a pessoa praticamente não consegue respirar. Por isso, o tratamento tem que ser cirúrgico. É um procedimento simples e rápido, com poucas complicações e um pós-operatório relativamente tranquilo. É necessária uma suspensão da rotina por volta de duas semanas. Depois da cirurgia, a qualidade de sono melhora, assim como o rendimento em atividades físicas, memória e disposição. Temos três níveis de classificação para o desvio de septo. O nível 3, que é o desvio obstrutivo, impede 100% da respiração da pessoa pelo lado que tem o desvio. Nesse caso, é necessário realizar a cirurgia.
Fonte: Correio Braziliense