Com a segunda onda, o receio é que as pessoas voltem a ter medo de procurar um médico e adiem o diagnóstico de uma doença que não espera
Na primeira onda da Covid-19, os pacientes oncológicos passaram por muitos problemas. O medo de ir médico, fazer exames e se submeter a procedimentos fez com que muitos empurrassem o tratamento para a frente – a estimativa é que 70% dos procedimentos foram adiados nos primeiros meses da pandemia. Agora, com o novo crescimento no número de casos e óbitos, os oncologistas temem que o paciente deixe para depois o tratamento de uma doença que não espera.
“Tivemos vários aprendizados nesses dez meses e, nessa nova etapa da pandemia, precisamos reafirmar aos nossos pacientes a importância de não descuidar do tratamento. O câncer antes da pandemia já ocupava o segundo lugar no ranking das principais causas de morte no Brasil. Para mudar essa realidade, é preciso manter a vigilância ativa para o diagnóstico de tumores malignos precoce e o início das condutas terapêuticas necessárias”, afirma o oncologista Bruno Ferrari, presidente do Conselho de Administração do grupo Oncoclínicas.
Ele lembra que a Organização Mundial de Saúde (OMS) considera o câncer uma doença de emergência e, por isso, a indicação é que seja tratada o quanto antes. De acordo com uma pesquisa publicada no The British Medical Journal, a cada quatro semanas de atraso no tratamento, o risco de morte aumenta em até 13%.
A oncologista Gabrielle Scattolin, da Oncoclínicas Brasília, conta que, conforme a pandemia foi evoluindo, e a ciência foi aprendendo a lidar com o risco de contaminação, os hospitais e centros de tratamento foram se adaptando para receber o paciente com o máximo de segurança possível.
“Já estamos mais treinados, os ambientes foram readequados, os protocolos refeitos. Não temos como garantir que nada vai acontecer, mas estamos muito mais preparados para minimizar as possibilidades do que estávamos em março de 2020”, afirma.
Ela explica que a telemedicina também pode ajudar no acompanhamento da doença, já que é uma ferramenta útil especialmente para pessoas com dificuldade de locomoção. “Achamos que fosse ter uma procura maior, inclusive, mas acreditamos que muitos pacientes sentem falta do contato presencial com o médico. O importante é continuar procurando tratamento, o oncológico não pode parar“, conclui.
Por: Juliana Contaifer – Metrópoles